Fiquei
a tarde pensando o quanto que a educação que recebemos influencia nossa
conduta, tenho uma mãe meiga, meu pai que já faleceu era muito bravo, e eu
herdei a firmeza dele. Acredito que as más companhias influenciam na educação e
na personalidade, até porque a única pessoa que se desvirtuou de nosso meio e
também o único que se envolveu com drogas era meu primo preferido do qual só
tenho recordações legais, está preso, e não foi por falta de oportunidades não,
ele sempre teve muito mais que nós. Graças a Deus meu outro priminho lindo que
eu cuidava quando eu tinha apenas 10 anos e ele 5, que minha tia praticamente
nem me pagava, o que na época para mim nem fazia tanta questão do dinheiro,
porque eu também era uma criança e não fazia muito juízo de valores, também não
sabia fazer nada, a não ser assistir desenho animado na companhia dele, e que
na minha casa não havia televisão porque minha mãe por questões religiosas não
nos deixava assistir. Tenho saudades daquele outro primo que hoje se encontra
preso, pois quando éramos crianças me ajudava matar galinhas com estilingue,
era nosso hobby de domingo favorito, nunca me esqueci da primeira vez que matei
uma galinha operando um estilingue. Tínhamos arma de fogo, mas é outra história
que a princípio não posso delatar. Eu cresci assim com esse espírito de firmeza
de meu pai, às vezes eu busco a leveza de minha mãe, mas eu não sou 100% assim,
e quando tenho que lidar com as teorias e práticas das metodologias eu fico
cada vez mais apreensiva, onde será que meu primo aprendeu a ter tanta ambição.
Ele era um menino lindo, mas acho que as dificuldades na escola não o deixaram
avançar muito no campo das idéias, não sei se o fato de ele ter tido uma mãe
alcoólatra e depressiva tenha influenciado a ele a usar drogas, e essa mesma
mãe se suicidou e ateou fogo na casa onde ele e mais dois irmãos viviam, ficou
a cicatriz no braço dele, uma marca talvez que tenha ficado no coração dele,
ele tinha muita vergonha da cicatriz no braço. Eu sei que ele não pode me ler
de dentro da cadeia pública, mas ele é um menino até hoje para mim, pena que
nossas vidas precisaram tomar rumos diferentes, meu tio sempre em busca de
novos e melhores trabalhos, não pudemos mais crescer juntos, senão tenho
certeza que não teria acabado assim, meu primo ia na igreja com a gente. Era
mais novo, mas sempre nos defendia, aprendi muito sobre coragem e defesa com
ele, ele e eu já ajudamos muitas crianças como minha irmã que sofria bullying,
não era uma forma correta de se fazer as coisas mas a gente não tinha ninguém
para nos ajudar, era todo mundo muito ocupado e resolvíamos os problemas do
nosso jeito, e gente adorava nadar nos cateadros de garimpo em Arenápolis,
aliás todas as crianças que moravam no bairro gostavam, ele não sabia nadar,
não me lembro se deu tempo dele aprender. Meu outro priminho que cuidei não ia,
porque era muito pequeno, vivia sob a tutela de nossa tia, daí não saía com a
gente. Mas eu me lembro, era eu, minhas irmãs, as vizinhas e meu primo,
adorávamos atravessar o rio Areia, e a gente sempre trazia coisas diferentes
para casa tipo buscar mangas nos bairro mais longíquos e ele adorava caçar passarinhos
e coelhos. Sabíamos caçar sim. Meu tio tinha dó que a gente matava os
bichinhos, daí um dia levou coelhos vivos para a gente criar, mas num belo dia
um coelho fez um buraco tão fundo que fugiu, e outros foram predados por uma
espécie silvestre muito comum da região, “a Irara”. São muitas lembranças,
nesse momento eu só queria ver meu primo livre das drogas, ele está muito longe
e eu disse ao meu outro primo que assim que der um folguinha irei visitá-lo,
não sei ainda em que pé está o processo mas vou tentar vê-lo. Ele se perdeu
muito esteve internado por duas vezes para se livrar do Crack, e me dói muito só
de pensar no quanto ele possa estar sofrendo não naquela prisão com grades, mas
nesse vício que destrói a vida das pessoas. Tenho muita saudades de meus
primos, saudades da nossa inocência das nossas brincadeiras. Eu tenho certeza
que se ele tivesse crescido junto com a gente ele teria se tornado um policial
ou algo ainda melhor, quando eu tinha 10 anos ele tinha apenas 8, e eu consegui
fazer com que ele não reprovasse de ano. Assim como meu tio me ajudou quando
meu pai faleceu, tenho certeza que se ele tivesse ficado conosco a vida dele seria
bem diferente. Enfim eu só rezo e peço a Deus que o ajude nessa fase ruim, foi
internado duas vezes, a primeira por um ano e meio, a segunda por um ano para
se livrar do crack, mas essa droga é assim, quando ela vem arrasta as pessoas
para o abismo, é quase impossível se livrar do crack. Eu só queria que ele se
livrasse das drogas e conseguisse ver que o mundo é belo e maravilhoso, mas
precisamos fazer boas escolhas para entender como o mundo é ainda mais belo e
maravilhoso, e não precisamos de tanta grana assim para ser feliz. A droga não
enriquece, no deixa mais pobres, nos rouba a saúde e depois nossa dignidade. Eu
só quero que ele saia desse leito de morte e volte à vida. Sim, porque ele está
morto mais não sabe, isso é o fim. Mas ele pode sair de lá, só depende dele,
exclusivamente dele.
Por
mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário